Pela primeira vez, o evento contou com um treinador de goleiros para dar atenção especializada às jogadoras que se dedicam ou gostariam de se dedicar a tal função

Até pouco tempo, Maria Izabel Nori tinha receio de se aventurar no Hockey no Gelo. Goleira experiente no Hockey Inline desde as categorias de base, a troca do piso plástico para o gelo apresentava um novo desafio; uma patinação deveras diferente em uma superfície ainda mais deslizante, o que lhe gerava medo de lesões.

Hoje, premiada como ‘melhor goleira’ nos dois Campeonatos Brasileiros de Hockey no Gelo Feminino da história, ‘Bel’ – como é chamada por colegas – assumiu um papel de liderança no desenvolvimento da modalidade no país e ajuda mulheres de todas as idades a superar os mesmos sentimentos que a afastavam do Hockey no Gelo tempos atrás.

A atleta esteve presente no CT Arena Ice Brasil no último final de semana, enquanto a CBDG sediava o único evento sul-americano do IIHF Girls’ Ice Hockey Weekend – uma iniciativa de fomento global que visa apresentar a modalidade a mais mulheres através de experiências gratuitas em um final de semana de imersão. O evento é a oportunidade perfeita para meninas e mulheres de qualquer idade colocarem os patins e segurarem um taco pela primeira vez, e para engajar também as veteranas, que aproveitam uma clínica de desenvolvimento especial para aperfeiçoamento técnico de atletas já experientes.

O Girls’ Weekend foi sediado em São Paulo de 13 a 15 de outubro, junto ao Campeonato Brasileiro de Hockey no Gelo Feminino. Neste ano, o número de inscritas para as clínicas e experiências superou o recorde do ano passado em 70%. Foram 51 mulheres de diversas idades (das quais 4 eram goleiras) neste evento, batendo a marca de 30 no ano passado. Muitas, já experientes no hockey sobre rodas inline, aproveitaram a oportunidade para se aventurar no gelo pela primeira vez em um ambiente positivo, seguro e divertido.

O objetivo de sediar o evento concomitantemente ao campeonato brasileiro de hockey no gelo é também celebrar o evento de maior nível técnico da categoria em solo nacional, mostrando referências do esporte para as atletas iniciantes e assim lhes fornecendo exemplos nos quais elas possam se espelhar.

Atletas no pódio do Campeonato Brasileiro de Hockey no Gelo feminino posam para foto coletiva

É importante lembrar que este se tratou do primeiro campeonato brasileiro de muitas atletas que começaram a jogar através do projeto de fomento ao hockey feminino da CBDG, que garantiu treinos gratuitos para mulheres todas as quintas-feiras de 2023 no CT da Confederação, em São Paulo capital. A competição foi o resultado de meses de trabalho e capacitação para que mais mulheres estivessem aptas a jogar Hockey em nível competitivo no Brasil.

“Foi a minha experiência competitiva no hockey no gelo. O campeonato foi muito bem organizado e contou com um alto nível técnico e tático das equipes, o que tornou a competição muito equilibrada.
Tenho certeza que 2024 tem tudo para fazer o hockey feminino crescer ainda mais e dar seus primeiros passos internacionalmente”, disse Juliane Poca, integrante da equipe Big Hockey Brasil.

Foram mais de 8 sessões de treinos e atividades no gelo e “off-ice”, cobrindo desde os fundamentos do Hockey à preparação física. A festividade contou também com palestras sobre nutrição e psicologia esportiva, nas quais atletas e entusiastas da modalidade puderam debater os tópicos de maneira colaborativa.

A psicóloga e atleta Natasha Contrera dá um panorama geral sobre psicologia esportiva

Ao todo foram mais de 100 eventos do IIHF Girls’ Hockey Weekend espalhados pelo mundo.

A novidade da edição deste ano em comparação à de 2022 foi a vinda de um treinador de goleiros para dar atenção especializada às jogadoras que se dedicam ou gostariam de se dedicar a tal função.

“Os treinos foram sensacionais! Aprendi técnicas de movimentação, posicionamento no gelo fundamentais… Treinar com Anthony durante os dias do Girls’ Weekend me ajudou a ter uma percepção diferente do universo do Hockey no Gelo, e fazer a transição do inline para cá com certeza foi muito positivo com todo auxílio e treinamento. Praticar junto com ele e outras atletas foi maravilhoso pois ele ia me ajudando a entender como ir aperfeiçoando as técnicas, minha postura, patinação. Voltei para casa querendo muito mais treinos no gelo, e desejando participar de outros treinamentos específicos para goleiras/os no gelo, além de participar de mais competições e momentos com as outras atletas”, disse Carolina Segovia – goleira da equipe Vipers que aproveitou as clínicas para fazer a transição de rodas para o “ice”.

OLHOS NO FUTURO:

A intenção da organização é fazer com que, cada vez mais, o evento conte com o protagonismo feminino para encorajar mais e mais meninas e mulheres na modalidade. Um objetivo para o próximo ano seria organizar a vinda de referências internacionais no hockey feminino – como é o caso da jogadora Lilian Braga – filha de mãe brasileira que trilhou uma brilhante carreira profissional como jogadora nos Estados Unidos, com passagens pela Divisão I da NCAA (Boston University) e pela PWHPA (Professional Women’s Hockey Players Association).